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Revista Jurídica Trabalho e Desenvolvimento Humano
Procuradoria Regional do Trabalho da 15ª Região
COSTA, Marli M. Moraes da; DIOTTO, Nariel. O lado invisível da economia – críticas à desvalorização do trabalho
doméstico não remunerado realizado pelas mulheres e suas implicações na garantia de direitos. Revista Jurídica
Trabalho e Desenvolvimento Humano, Campinas, v.7, p. 1-30, 2024. DOI: https://doi.org/10.33239/rjtdh.v7.201.
maternidade e da capacidade gestacional feminina, prendendo a mulher neste papel.
Esses tipos de trabalho são frequentemente associados a uma definição cultural das
mulheres como pessoas cuidadosas, gentis, diligentes, estando sempre prontas para
se sacrificarem pelos outros,6 por exemplo, como “boas mães”.
As construções socioculturais que fazem com que o trabalho doméstico seja
atribuído às mulheres têm como base a divisão sexual e social do trabalho. Sendo
assim, os homens exercem suas atividades no capitalismo na forma de trabalho
produtivo, enquanto as mulheres estão inseridas em dois planos: algumas, que já
adentraram no mundo do trabalho, exercem suas funções laborais na produção de
mercadorias/serviços fora de casa e, “naturalmente”, exercem também suas funções
habituais de reprodução da vida, no seio doméstico, nas tarefas de cuidado, voltadas
ao bem-estar do ser humano e consideradas como “trabalho reprodutivo”. Essa dupla
jornada de trabalho, que ocorre fora de casa, no mundo produtivo e no interior da
família, é causa para o que se chama de sobrecarga feminina. Mesmo que as mulheres
tenham alcançado locais no mercado de trabalho, ainda não se desvincularam de sua
principal responsabilidade, que é o trabalho reprodutivo, do lar.
Cabe destacar, também, que a atribuição histórica das tarefas domésticas
como inerentemente “femininas” somada à desigualdade racial, de maneira
desproporcional delegou o trabalho de reprodução social às mulheres negras,
resultando em uma maior desvalorização social do trabalho doméstico e de cuidado.
O desenvolvimento deste trabalho reflete a construção e a hierarquização de
categorias sociais de gênero, raça e classe e, quando exercido na forma de trabalho
remunerado, permanece caracterizado por elevados níveis de precariedade, falta de
proteção e desigualdade nas condições laborais, além da desvalorização e dos
preconceitos sociais enfrentados pelas trabalhadoras.7 Já quando exercido de
6 SOUSA, Luana Passos de; GUEDES, Dyeggo Rocha. A desigual divisão sexual do trabalho: um olhar
sobre a última década. Estudos Avançados, São Paulo, v. 30, n. 87, p. 123–139, maio/ago. 2016.
Disponível em: https://www.scielo.br/j/ea/a/PPDVW47HsgMgGQQCgYYfWgp/?format=pdf&lang=pt
Acesso em: 29 ago. 2024.
7 ARAUJO, Anna Bárbara; MONTICELLI, Thays; ACCIARI, Louisa. Trabalho doméstico e de cuidado: um
campo de debate. Tempo Social: revista de Sociologia da USP, São Paulo, v. 33, n. 1, p. 145–167,