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Revista Jurídica Trabalho e Desenvolvimento Humano
Procuradoria Regional do Trabalho da 15ª Região
FESTI, Ricardo C.; BERG, Tábata; SANTOS, Kethury M. dos; GONÇALVES, Nicolle W. da S.; PELEJA, João P. I.;
VILANOVA, Brenna de A.. O que pensam os motoristas sobre o debate da regulamentação do trabalho por aplicativos?
Revista Jurídica Trabalho e Desenvolvimento Humano, Campinas, v.8, p. 1-30, 2025. DOI:
https://doi.org/10.33239/rjtdh.v8.221.
A criação de normas legais para o trabalho uberizado ou plataformizado torna-
se urgente em face aos cenários de mudanças tecnológicas e organizacionais na
economia e sociedade. Nesse contexto, os trabalhadores de aplicativos perfazem
jornadas diárias e semanais excessivamente longas, recebem remuneração baixa e
arcam com todos os custos dos equipamentos usados em sua atividade laboral6.
Segundo Tozi, 69,1% dos motoristas de aplicativos têm esta como atividade principal,
sendo que apenas 30,9% a utilizam como complemento de outra renda. Quase
metade não contribuem para a previdência social e a média da jornada de trabalho
é de 51 horas semanais7. Já um outro estudo aponta que a renda média dos
motoristas de aplicativo caiu de R$ 3.100,00 entre 2012 e 2015 para R$ 2.400,00 em
2022, ano em que o contingente de trabalhadores foi de 1.109.5788.
Apesar de todas as evidências de que há uma relação de subordinação destes
motoristas às empresas-plataforma, estes são recorrentemente considerados como
“autônomos” ou “empreendedores”9 pelas empresas ou por eles mesmos,
dificultando o reconhecimento como assalariados. Isso facilita a estratégia das
6 FESTI, Ricardo; VÉRAS, Roberto. Condições de trabalho, direitos e diálogo social para
trabalhadoras e trabalhadores do setor de entrega por aplicativo em Brasília e Recife. São Paulo:
Centro Única de Trabalhadores, 2020; ABÍLIO, Ludmila Costhek; ALMEIDA, Paula Freitas de; AMORIM,
Henrique; CARDOSO, Ana Claudia Moreira; FONSECA, Vanessa Patriota de; KALIL, Renan Bernardi;
MACHADO, Sidnei. Condições de trabalho de entregadores via plataforma digital durante a COVID-19.
Revista Jurídica Trabalho e Desenvolvimento Humano, Campinas, v. 3, p. 1-21, 2020. Disponível
em: https://revistatdh.org/index.php/Revista-TDH/article/view/74. Acesso em: 30 dez. 2021;
ANTUNES, Ricardo (org.). Uberização, trabalho digital e indústria 4.0. São Paulo: Boitempo, 2020;
ANTUNES, Ricardo (org.). Icebergs à deriva: o trabalho nas plataformas digitais. São Paulo: Boitempo,
2023; FESTI, Ricardo Colturato (org.). A tragédia de Sísifo: trabalho, capital e suas crises no século
XXI. Jundiaí: Paco Editorial, 2023.
7 TOZI, Fábio. Dirigindo para a Uber: resultados da pesquisa. Belo Horizonte: Instituto de Geociências,
2023.
8 CARVALHO, Sandro Sacchet de; NOGUEIRA, Mauro Oddo. Plataformização e precarização do trabalho
de motoristas e entregadores no Brasil. Mercado de Trabalho: conjuntura e análise, Brasília, DF,
n. 77, p. 173-196, abr. 2024. Disponível em:
https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/13644/12/BMT_77_PDRT_A1.pdf. Acesso em: 14
out. 2024.
9 CANT, Callum. Delivery Fight! : a luta contra os patrões sem rosto. 1a edição. São Paulo: Veneta,
2021; TOZI, Fábio; BOZZI, Fábio. Empreendedorismo periférico? Motoristas uberizados e lavadores
precarizados em lava a jatos nas margens da metrópole. Indisciplinar, Belo Horizonte, v. 7, n. 1,
p. 184–219, dez. 2021. Disponível em:
https://periodicos.ufmg.br/index.php/indisciplinar/article/view/37624. Acesso em: 14 out. 2024.